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sábado, julho 23

... MONÓLOGOS DA LOUCURA... PRIMEIRA VISITA ...

... Muito prazer!!! Sou a Loucura!!!
Gostaria de falar um pouco sobre minha importância no mundo, do quanto sou necessária aos Homens, do quanto a Humanidade me deve.
Well!!! Well!!! Well!!!                                                                                    
Vejamos... Hum!!! Por onde começo???
Já sei!!! Vou falar de minha contribuição aos Poetas, Oradores e Escritores.
Os Poetas me devem menos, mesmo que sejam naturalmente de meu meio. Eles formam  uma nação independente, como diz o provérbio, que se aplica constantemente em seduzir os ouvidos dos Loucos por meio de besteiras e de Fábulas simplesmente ridículas.
É surpreendente que, com esses meios, prometam para Si mesmos a Imortalidade, uma vida igual àquela dos Deuses e que se sintam capazes de prometê-la ainda aos outros.
Essa categoria que, antes de tudo, está a serviço da Philautia (Amor próprio) e da Adulação, é aquela que me Honra com maior sinceridade e constância.
Os Oradores também fazem parte de minha confraria, embora algumas vezes me sejam infiéis e se tornem cúmplices dos Filósofos.
Entre outras asneiras, recrimino-os de terem escrito tantas vezes e com tanta seriedade sobre a “Arte de Gracejar”.
O Autor, pouco importa quem seja, da Retórica a Herênio[1] inclui a Loucura entre as diferentes espécies de brincadeiras e Quintilhiano[2], o príncipe dos retóricos, compôs sobre o riso um capítulo mais volumoso do que a Ilíada.
Todos Eles têm tanto apreço pela Loucura que, muitas vezes, na falta de argumentos, encontram a saída no riso. Recorrem, portanto, a Mim, porquanto é meu papel e minha Arte provocar sonoras Gargalhadas.
Da mesma espécie são os escritores que aspiram à fama imortal pela publicação de seus livros. Todos me devem muitíssimo, mas, sobretudo, aqueles que enchem folhas de puras baboseiras. Quanto aos autores que submetem sua erudição ao julgamento de restrito número de sábios e não recusam o parecer de Pérsio nem de Lélio[3], parecem-me bem mais dignos de compaixão do que felizes, em vista da tortura interminável que se impõem.
Eles acrescentam, modificam, suprimem, cortam, reescrevem, reformulam, consultam outros sobre seu trabalho, guardam-no nove anos e nunca estão satisfeitos. E a glória, fútil recompensa que recebem de poucos, pagam-na com caro preço, à custa de sono, esse bem supremo, e de muitos sacrifícios, suores e fadigas.
Acrescente-se ainda a perda da saúde e da beleza, a diminuição da visão e até a cegueira, a pobreza e a inveja dos outros, a privação de todos os prazeres, a velhice precoce, a morte prematura e muitas outras desgraças.
Apesar de todos esses longos sacrifícios, nosso Sábio acredita que não pagou caro pela aprovação que lhe rende um ou dois Remelentos.
Mas aqui está meu escritor, que me segue e vive em doce Delírio. Sem muita fadiga, deixa correr sua caneta sobre o papel e escreve o que lhe passa pela cabeça, transcreve à perfeição seus sonhos, gastando somente um pouco de papel e sabendo, por outro lado, que quanto mais fúteis suas futilidades, mais haverá de colher aplausos, aqueles da unanimidade dos Loucos e dos Ignorantes.
Que lhe importam esses três doutores que poderiam lê-los e desprezá-los??? Que haveria de pesar a opinião de tão reduzido número diante da multidão que os contradizem???
Melhor visão têm ainda aqueles que sabem atribuir-se as obras dos outros. A glória que deveria ser conferida a outro por seu grande trabalho, dela se apropriaram, na certeza de que a acusação de plágio não os impedirá de colher resultados em benefício próprio, pelo menos por algum tempo.
Vale a pena vê-los empertigar-se quando elogiados e apontados com o dedo pela multidão: “Aí está Ele, aquele escritor famoso!” Vale a pena vê-los quando seus livros estão expostos nas livrarias, quando no alto de cada página podem ser lidos três nomes, sobretudo se estrangeiros e com certo sabor de magia! Que significam pois esses nomes, Deuses Imortais! Além do mais, serão muito poucos aqueles que, no vasto Universo, conseguirão compreender-lhes o sentido, menos ainda a aprová-los, porquanto até mesmo os ignorantes têm suas preferências. Na realidade, esses nomes são geralmente forjados ou extraídos dos livros dos antigos.
Há quem goste de chamar-se Telêmaco ou Esteleno ou Laerte ou Polícrates ou Trasímaco. Poderiam muito bem conferir a seus livros o título de Camaleão ou Abóbora ou ainda indicá-los como  os Filósofos, com letras do alfabeto, A,B ou Alfa, Beta.
Acima de tudo, porém, é divertido vê-los cumula-se de elogios recíprocos em cartas e pequenas peças em versos. É a glorificação do Louco pelo Louco, do Ignorante pelo Ignorante. Nesta troca de elogios, um se torna Alceu e o outro, Calímaco[4]. Um se torna mais superior a Cícero e o outro é declarado mais sábio que Platão.
Às vezes, para aumentar sua reputação, criam um adversário para combater publicamente e o povo fica em suspenso, sem saber qual partido tomar, mas no final, após batalha memorável, os dois saem vencedores e celebram o triunfo. Os Sábios riem, e com razão, dessa extrema loucura. Quem poderia negá-lo???  Entretanto, por meu intermédio, eles ficam imensamente felizes e não trocariam seu triunfo por qualquer um daqueles de Cipião.
De resto, esses mesmos Sábios que sentem tanto prazer em rir dessas insanidades e em divertir-se com a Loucura dos outros, eles também têm um grande débito comigo, nem contestá-lo, se não forem os mais ingratos dentre os Homens!!!
Well!!! Well!!! Well!!!
Preciso ir, ser a Loucura é muito trabalhosa, depois passo por aqui para falar-lhes mais um pouco.
E não se esqueçam, estou em Vocês!!!
Até a próxima, meus queridos Insanos!!!

[1]- Retórica a Herênio, no livro1, cap. 6, apresenta várias maneiras de despertar e levar ao riso um auditório cansado. Entre elas, fazer um apólogo, contar uma história verossímil, dizer uma palavra de duplo sentido, fazer uma careta, uma loucura, trocadilho de palavras, uma saída inesperada , contar uma piada, etc.
[2]- Capítulo 3 do livro VII da obra De Institutione Oratoria de Marcus Fabius Quintilhianus [séc. I d.C.].
[3]- Dois personagens da obra De Oratore [II, 6,25] de Marcus Tulius Cícero [106-43 a.C.].
[4]- Alceu de Mitilene e Calímaco, dois dos maiores poetas gregos da Antigüidade.

(Inspirado em Erasmo de Rotterdam, Filósofo Holandês)

By Gutemberg de Moura   

Um comentário:

  1. Rapaz tinha acabado de comentar no seu face que gostaria que você tivesse um blog... rs muito bom viu!!

    Deixo por hora o meu abraço volto para ler com calma. Estou no escritório e em casa a intimidade é oura. Abraços!!

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