Deitado de costas, fixava o teto, não pensava em nada, nada existia, uma paz de morte era o gosto daquele momento.
Não sentia que seu corpo existia, sabia que tinha membros e órgãos, mas tudo era tão desconexo, não tinha definição de posição também, não conseguia distinguir qual era à disposição de seu corpo naquele espaço.
Na verdade nem queria saber de corpo, posição, membros, objetos, neste momento Ele apenas existia, sem moral, sem certo ou errado, sem angústia. Apenas consciência. Consciência??? Sentidos??? Percepção??? Intelecto??? Noções??? Opiniões??? Moral??? A consciência voltou. Arrrgggghhhh!!!
A vida estava ali diante Dele, sentou-se, era-lhe difícil respirar, parecia que o coração comprimia-lhe os pulmões, os músculos de sua garganta repuxavam-se, era um nó bem feito, um tremor violento passeava por seu corpo, sentia a língua inchar e a boca secar. Seu rosto contraiu-se em uma careta dolorida e lágrimas grossas, quentes e salgadas rolaram.
Tentou levantar-se, ir ao banheiro molhar o rosto, não conseguia, este choro convulsivo roubava-lhe todas as forças, tinha que parar de chorar.
Não é estranho como às vezes, atitudes simples e imperativas, apresentam-se a nós como um sacrifício pesado e impraticável?
Não podia sucumbir à vontade de desfazer-se em lágrimas, liquefazer-se e esperar evaporar-se, ainda assim seria Ele, não podia fugir, não desse modo, juntou forças e levantou-se e literalmente arrastou-se até o banheiro, em frente a pia com a torneira aberta molhava o rosto, ao endireitar-se, deparou-se com sua face no espelho, tentou desviar o olhar, mas não conseguiu, tinha que se encarar, tinha que recobrar a noção de sua feição, mas qual, se para cada capricho, desejo, sofrimento e alegria do Espírito há uma feição diferente. Não será nossa carne, nosso rosto, uma mera máscara que o Espírito usa para mostrar a Si e seus sentimentos?
Seu rosto tinha um aspecto de amassado, seus olhos estavam inchados e eram de um vermelho vivo, emoldurado por olheiras de um roxo mórbido e opaco, sua barba estava por fazer, o que lhe ressaltava o abatimento e a apatia. Seus cabelos desgrenhados completavam o quadro, que seu Espírito pintara em sua face com cores de angústia e mágoas.
O choro cessou apenas a angústia permanecia, e a violência com que se apresentava o fez sentir náuseas, e vômito jorrou com violência igual à de sua “mãe”.
Arrastou-se de volta à cama, e ali permaneceu sentado, contemplando as facetas de sua consciência do “Nada”, seu mundo neste momento constituía-se apenas daquelas paredes que o cercavam. Paredes que o protegiam? Paredes que o prendiam? Tanto faz, pois protegido ou prisioneiro, estava Só.
Precisava acalmar-se, era mister por as idéias em ordem, precisava concatenar os pensamentos.
Lembrou-se de uma garrafa de Vinho que guardara para comemorar seu aniversário, ( que porventura é hoje), um presente sem “presentes”, havia também canabis, que usava de forma recreativa, mas agora dane-se, queria entorpecer-se indiscriminadamente, queria acalmar-se, mesmo que de uma forma tão tola e errada.
E daí que viria a recorrer á objetos externos para se recompor a ponto de poder raciocinar, o “Fermentado” e o “THC” lhe dariam o que sua razão “tão acima da média” não conseguia. Tornara-se um ébrio.
Bebeu e fumou, era gostoso sentir-se inebriado, sentia-se lúdico, era quase como estar feliz!
Mas afinal o que é a felicidade? Não será a felicidade algo somente possível a partir de causas externas? Não será verdade que a felicidade somente nos é apresentadas por situações que vivemos? Não será verdade que a felicidade só é possível fora de nós? Há quem diga que a felicidade reside em nós, mas será que não é necessário um agente detonador externo? Algo que desencadeie toda a sensação de felicidade?
Não será verdade que o motivo que ontem nos felicitou, hoje nos infelicita?
Quer saber? Deixe tudo isto parar lá, tudo não passam de especulações, conjecturas e sofismas. Ademais a felicidade é algo muito subjetivo!!!
Já conseguia pensar.
Ela não era culpada, Ela só lhe mostrava sua vida como esta era, e o fazia isso com sua Ausência.
Na verdade Ela nem sabia disso tudo.
Gutemberg de Moura
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